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Arquitetos: Juan Carlos Bamba, Natura Futura Arquitectura
- Área: 70 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Francesco Russo
Descrição enviada pela equipe de projeto. Contexto. No Equador, há vários séculos, o Rio Babahoyo e suas casas flutuantes se estabeleceram como um dos principais pontos de coleta, armazenamento e descanso na rota comercial de mercadores e agricultores entre as cidades de Guayaquil e Quito, empregando um sistema construtivo mais resiliente e adaptável ao longo dos anos.
Atualmente, o rio deixou de ser uma via comercial, reduzindo o número de estruturas flutuantes de 200 para 25 e aumentando seu risco de extinção, apesar da prática ser reconhecida como Patrimônio Imaterial do Equador.
Nos últimos anos, os governos têm desenvolvido soluções habitacionais de realocação e deslocamento, declarando as margens do rio como área de risco, sem levar em conta as consequências nas dinâmicas socioculturais baseadas na pesca, na fabricação de barcos e no transporte fluvial.
Os habitantes das 25 casas restantes sentem a necessidade de preservar o vínculo com seu território, apesar das necessidades básicas não atendidas e da inexistência de políticas públicas que promovam o cuidado de seu habitat.
O objetivo é apresentar um modelo de desenvolvimento de moradias flutuantes direcionado a Don Carlos, Dona Teresa e seu filho mais novo. Uma família que vive no rio há mais de 30 anos e utiliza o ecossistema imediato como seu principal recurso.
Carlos se dedica à reparação de barcos de madeira, enquanto Teresa prepara comida tradicional, que é vendida nas comunidades locais. A casa em que moravam apresentava uma condição crítica em sua estrutura e na provisão de serviços básicos, impedindo-os de realizar suas atividades de subsistência de forma digna e sustentável.
Processos e técnicas. Foi feito um levantamento dos espaços habitáveis atuais e um inventário que registra os móveis e seus usos. Por meio de entrevistas com Carlos e Teresa, aprofundamos as problemáticas, necessidades e possíveis soluções.
La Balsanera propõe a extensão de 2m para cada lado da plataforma atual (6mx7m) para potencializar os ambientes produtivos dos habitantes. A estrutura é composta por pórticos modulares a cada 2m construídos com madeira local, que formam uma estrutura de duas águas, gerando espaços de armazenamento com altura suficiente para potencializar a ventilação e iluminação natural através de suas janelas de madeira.
No centro, mantém-se a localização atual dos espaços privados e sociais, como sala de estar, sala de jantar, cozinha e quartos; enquanto nas extremidades são adicionadas duas faixas: uma de serviço e duas produtivas, onde se encontram a oficina de barcos, banheiro seco, lavanderia, vaso sanitário e chuveiro. A plataforma termina em um terraço produtivo voltado para o rio, onde é oferecida a possibilidade de ampliar o serviço de alimentos tradicionais, encontros sociais e ancoragem de barcos turísticos.
Gestão e abordagem. O SAT (Sharjah Architectural Triennial) convocou equipes de arquitetura para desenvolver uma exposição que valorizasse a importância da escassez, a reutilização de recursos e a valorização de técnicas ancestrais baseadas na natureza do Sul Global. Entre elas estava o estúdio Natura Futura que, em colaboração com Juan Carlos Bamba, decidiu utilizar os recursos da exposição, que são comumente empregados em construções efêmeras e posteriormente descartados, para projetar e construir a primeira casa flutuante sustentável em Babahoyo, Equador, com o objetivo de recuperar a tradição de habitar o rio.
La Balsanera explora possíveis soluções flutuantes que recuperam as técnicas artesanais locais, ao mesmo tempo em que potencializa a participação ativa e produtiva dos ocupantes em comunidades vulneráveis, onde é urgente fortalecer sua resiliência e sustentabilidade para iniciar a geração de políticas públicas que permitam, pela primeira vez, o habitat tradicional no rio.